Os escritores norte-americanos Paul Auster e Siri Hustvedt integram o júri do Lisbon & Estoril Film Festival, que decorre até 13 de Novembro, em Lisboa e Cascais, e que conta também com a presença da actriz e cantora Sophie Auster, filha do casal.
Programa dos eventos:
Quarta-feira, dia 9 de Novembro
13h30 – Encontro com Sophie Auster, moderado por Nuno Galopim, no Fórum FNAC Chiado
18h30 – Encontro com Siri Hustvedt na Faculdade de Letras de Lisboa sobre “Three Emotional Stories: Reflections on Memory, the Imagination, Narrative, and the Self”, no âmbito do ciclo de Encontros do Instituto de Cultura Americana (ICA) "De que falamos quando falamos da América?"
Quinta-feira, dia 10 de Novembro
19h00 – Sessão de leituras com Paul Auster, Siri Hustvedt, J. M. Coetzee e Don DeLillo no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa
23h30 – Concerto de Sophie Auster no Lux Frágil, em Lisboa
Sexta-feira, 11 de Novembro
Das 11h00 às 13h00 – Sophie Auster participa no debate sobre música no simpósio internacional “Os direitos de autor na era da Internet: que futuro para as indústrias culturais?”, no Centro de Congressos do Estoril. O debate conta com a presença de Frédéric Junqua, Para One e Paulo Furtado, entre outros
Sábado, 12 de Novembro
Das 11h00 às 13h00 – Paul Auster participa no debate sobre literatura no simpósio internacional “Os direitos de autor na era da Internet: que futuro para as indústrias culturais?”, no Centro de Congressos do Estoril. O debate conta com a presença de Don DeLillo, Yasmina Reza e Aurélie Filippetti, entre outros
Para mais informações sobre o Lisbon & Estoril Film Festival, consulte o site oficial aqui
O escritor, argumentista e realizador Paul Auster vai integrar o júri do Lisbon & Estoril Film Festival, que decorre de 4 a 13 de Novembro, em Lisboa e Cascais.
O júri será também composto pelos escritores J. M. Coetzee, Siri Hustvedt, Peter Handke, Don DeLillo, pelo realizador Luca Guadagnino, o músico Gidon Kremer e o artista plástico português José Barrias.
O festival, criado pelo produtor Paulo Branco abrirá com os filmes Nos Idos de Março, de George Clooney, e Restless, de Gus Van Sant, e encerrará com La piel que habito, o mais recente filme de Pedro Almodóvar.
Terá também lugar uma exposição de fotografias inéditas do realizador alemão Wim Wender, com Portugal como tema central.
A actriz e cantora Sophie Auster, filha de Paul Auster e Siri Hustvedt, marcará também presença com um concerto.
O ministro da Cultura de França, Frédéric Mitterrand, estará no festival a propósito de um simpósio sobre direitos de autor e Internet.
A competição deste ano contará com doze longas-metragens, sendo que a lista só será divulgada em Outubro.
O festival preparou também quatro homenagens na área do cinema, organizando retrospectivas das obras de William Friedkin, Leos Carax, Wes Anderson e Aleksei Guerman
Para mais informações sobre o Lisbon & Estoril Film Festival, consulte o site oficial aqui.
Siri Hustvedt. Por dica do marido, o também escritor Paul Auster, por cá alinhavou parte da trama de Elegia para um Americano, obra suspensa do espírito do seu falecido pai.
Não é a sua primeira vez em Lisboa…
Na verdade, por indicação do meu marido [o escritor Paul Auster] que aqui esteve a fazer um filme [A Vida Interior de Martin Frost], acabei por escrever parte deste livro em Lisboa. Ficámos num sítio muito sossegado, nos arredores da cidade. Não atendia telefonemas, só escrevia durante horas e horas, e depois de jantar dava um passeio. Lisboa é um local fantástico para se escrever. Mas normalmente escrevo na nossa casa de família em Brooklyn. É uma casa de quatro pisos e eu trabalho no último andar. Cada um de nós tem um andar. Precisamos de uma casa assim tão grande para os nossos livros que estão espalhados por toda a parte.
A mãe do protagonista desta história comenta que uma das coisas que mais sente falta é partilhar as histórias do dia-a-dia com o falecido marido. Quem cumpre esse papel na sua vida?
Eu e o meu marido, ambos cumprimos esse papel mutuamente. Mas esse desabafo da personagem foi um comentário que roubei directamente da minha própria mãe. É muito estranho, mas especialmente durante o primeiro ano da morte do meu pai foi como se esquecêssemos que ele tinha morrido. É uma espécie de processo inconsciente, involuntário. Até mesmo agora, dou por mim a pensar: “devia ligar ao meu pai e perguntar-lhe.” Esse é um fenómeno interessante sobre a morte: o facto de esquecermos que ela aconteceu.
Depois de Fantasias de uma Mulher deixou-se render de vez pelos protagonistas masculinos?
Esta é a segunda vez que escrevo numa perspectiva masculina. No livro anterior o protagonista é um homem mais velho. Estou a tentar explorar a geografia da condição humana. Desta vez escolhi um homem mais jovem. E já estou a trabalhar num romance em torno de uma mulher mais velha. Estou sempre a mudar a minha perspectiva. Neste livro o protagonista vive rodeado de mulheres de personalidade forte. Nele os pais são figuras ausentes.
E o universo infantil?
Adoro escrever sobre crianças. Parece que há sempre uma criança nos meus livros. Gosto da sua perspectiva diferente das coisas. São simples e complicadas. As crianças e os filósofos tendem a colocar as mesmas questões. É uma perspectiva menos experiente mas também com menos clichés.
O protagonista vai conhecendo o pai através dos seus diários. Gostaria que os seus livros ajudassem os seus descendentes a conhecê-la melhor?
Pergunta interessante. Para falar a verdade nunca pensei nisso. Quando conhecemos escritores de quem gostamos, há sempre um vazio entre o escritor e a pessoa, que não são idênticos. Essa ideia de deixar um legado é estranha. A minha filha leu os meus livros mas já em adulta, o que foi apropriado pois não se destinam a crianças. Espero viver para ser avó pois esse é um grande, grande desejo na minha vida. Mas não penso muito em deixar livros para os meus netos. Quando escrevemos, fazemo-lo para alguém que não sabemos definir.
No livro narra muitos casos clínicos de psiquiatria. É tudo fruto da sua imaginação?
Os casos foram todos inventados. Mas durante dois anos fui professora voluntária num hospital psiquiátrico e tomei conhecimento de muitos casos. Lidei de perto com doentes mentais. Claro que também fiz muita investigação, falei com especialistas. Além disso trabalho regularmente com um grupo de neuropsicanálise.
Nova Iorque é uma cidade neurótica?
Essa é uma boa questão: se Nova Iorque é mais neurótica que outras cidades. Não, não creio. Penso que a neurose está em todo o lado.
No novo livro a solidão é quase uma personagem. Crê que o 11 de Setembro aproximou as pessoas ou agravou essa sensação de solidão?
O 11 de Setembro foi algo muito especial, sobretudo para os nova-iorquinos que o viveram de tão perto, mas não creio que seja um marco na história da Humanidade. Afectou-nos porque foi-nos muito próximo. Interessante foi a consequente torrente de bondade. Foi algo extraordinário ainda que efémero. As pessoas metiam mais conversa entre si, partilhando o luto. Não há dúvidas que foram tempos extraordinários na história de Nova Iorque. E todos os que lá estiveram recordarão esses tempos para sempre.
Acredita nesta nova era Obama?
Sim, acredito! Rejubilei, chorei como um bebé, quando ele foi eleito. E ainda não desci à terra. Sabia que não tinha votado num radical. O Obama é um reformador. Ele tem correspondido às minhas expectativas.
Entevista de Vera Valadas Ferreira com Siri Hustvedt, no Destak, no dia 18 de Junho.
A escritora Siri Hustvedt esteve em destaque no programa Ensaio Geral, da autoria de Maria João Costa, que passa na Rádio Renascença, às quintas-feiras, depois das 23.30. Ouça a entrevista com a autora de Elegia para um Americano aqui.
Os seus livros convidam naturalmente ao debate, como se prolongássemos o jogo intelectual presente nas suas páginas, e Hustvedt é uma interlocutora estimulante. Dessas que tem tudo para dar certo (se não der a culpa não é dela).
Leia na íntegra a entrevista de Kathleen Gomes a Siri Hustvedt, publicada hoje no suplemento Ípsilon do Público, aqui.
Lisboa, 03 Jun (Lusa) – A escritora norte-americana Siri Hustvedt veio a Lisboa apresentar o quarto romance, Elegia para um Americano, uma ficção "sobre o luto e a transmissão das gerações" apresentada pelo crítico literário Pedro Mexia como "densamente autobiográfica", "quase ensaística".
A autora cita nesta obra as memórias do pai, Lloyd Hustvedt, falecido em 2003, e dedica o livro à filha, a actriz e cantora Sophie Hustvedt Auster, nascida em 1987.
Os protagonistas da história são os irmãos Erik e Inga, abalados por duas mortes recentes – do pai de ambos e do marido de Inga.
Erik, psiquiatra, e Inga, intelectual viúva de um escritor famoso, tentam descobrir segredos e lacunas das vidas dos dois mortos e começam por encontrar-se a braços com os arquivos meticulosamente organizados pelo pai recém-falecido, Lars Davidsen, um descendente de noruegueses que emigraram para o estado norte-americano do Minnesota, tal como a família da escritora.
"O luto é uma forma de dor psíquica", defendeu Siri Hustvedt terça-feira ao fim da tarde, na FNAC Chiado, onde o livro foi apresentado, explicando que para escrevê-lo fez voluntariado numa clínica psiquiátrica, estudou as doenças mentais e seus sintomas e que sentiu "profunda empatia e compaixão com aqueles doentes".
Segundo Pedro Mexia, é essa a vertente mais ensaística de Elegia para um Americano, em que os casos "vão surgindo nos pacientes que Erik acompanha e em elucubrações sobre Winnicott, Dennett ou António Damásio", demonstrando que "não são apenas a psiquiatria e a psicanálise que estão em causa, mas a neurociência e, em geral, o modo como a mente funciona".
"Comecei a escrever o romance quando o meu pai estava a morrer e o impulso para usar o seu texto [memorialístico] dentro do meu texto foi um impulso muito simples de tentar guardar alguma coisa do meu pai, de me agarrar a qualquer coisa", indicou, acrescentando que "perder um pai é uma questão complicada, independentemente de quem se seja".
Todas as personagens tentam "escrever a biografia alheia, nomeadamente a biografia de Lars e Max, os dois mortos – sustentou o poeta e crítico literário –, das memórias da guerra do Pacífico aos meandros da imaginação romanesca, mas também tropeçam em amantes e filhos secretos".
"O que Erik e Inga vão percebendo é que conhecer uma história é reescrevê-la, fazer ficções em torno do passado", o que "significa que as investigações que se vão sucedendo têm menos importância pela suposta verdade que revelam do que pelo modo como os vivos organizam as suas narrativas sobre os mortos, mais ou menos reais, mais ou menos ficcionadas", referiu.
Um texto feito de "uma teia de sonhos, desenhos, fotos, cartas e citações (incluindo as passagens escritas por Lloyd Hustvedt), uma massa de imagens, palavras e outros modos de expressão com uma legibilidade esquiva" – descreveu Mexia – Elegia para um Americano, The Sorrows of an American, no original, tem o atentado às torres gémeas do World Trade Center, em Nova Iorque, como "marca americana".
"Mas esta mágoa é a mágoa universal pelos que partiram. E o romance procura uma maneira de lidar com essa mágoa, para que ela nos fortaleça e não nos destrua", concluiu.
Elegia para um Americano de Siri Hustvedt, com quatro romances e três ensaios publicados e um em preparação, tem em Portugal a chancela da ASA.
ANC.
Lusa/fim