Os escritores Paul Auster e Siri Hustvedt captam a alma e a psique da América nos seus romances. Ambos falaram, na casa deles, no Brooklyn, com o jornalista John Freeman sobre vida familiar, literatura, arte, psicologia e Elegia para um Americano e Homem na Escuridão, entre outros temas, num artigo que foi publicado em diversos jornais, um pouco por todo o mundo.
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Siri Hustvedt, uma das metades do mais famoso casal literário de Nova Iorque deu uma entrevista, em sua casa, à jornalista Rachel Cooke, do The Observer. Nesta peça imperdível, a escritora fala do seu casamento com Paul Auster, da sua família, de como foi crescer numa pequena cidade do interior da América, de Elegia para um Americano e afirma que ainda se sente como uma outsider, apesar do seu sucesso literário. "Houve momentos em que sentia que as pessoas me atropelavam para chegar ao grande homem; ficava com marcas no corpo", admitiu Siri Hustvedt.
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A sessão de lançamento de Elegia para um Americano, de Siri Hustvedt, vai ter lugar na Fnac Chiado, no dia 2 de Junho, às 18h30. O evento contará com a participação da escritora norte-americana e a apresentação ficará a cargo de Pedro Mexia.
O novo romance de Siri Hustvedt é, mais uma vez, sobre os segredos labirínticos que as pessoas escondem
Na sombra de Paul Auster (apenas porque é casada com ele) vislumbra-se uma grande novelista; Siri Hustvedt. Apesar dela navegar por mares percorridos por outros (a memória, os segredos que os mortos esconderam, os artistas alucinados), ela tornou-se uma verdadeira mestre nestes labirintos insondáveis. É esse mundo misterioso que voltamos a encontrar neste Elegia para um Americano.
Leia o resto da crítica de Fernando Sobral a Elegia para um Americano, de Siri Hustvedt, publicada no suplemento Weekend, do Jornal de Negócios, no dia 22 de Maio, aqui.
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A minha irmã chamou-lhe «o ano dos segredos», mas olhando agora para trás, acabei por perceber que foi um tempo não do que havia, mas do que não havia. Uma vez um paciente meu disse-me: «Há fantasmas a passear dentro de mim, mas nem sempre falam. Às vezes não têm nada para dizer.» Sarah pestanejava, ou mantinha os olhos quase sempre fechados porque tinha medo que a luz a cegasse. Suponho que todos temos fantasmas dentro de nós, e é preferível que falem do que não o façam. Depois de o meu pai morrer nunca mais pude falar-lhe pessoalmente, mas não deixei de ter conversas com ele na minha cabeça. Não deixei de o ver nos meus sonhos nem de ouvir as suas palavras. Ainda assim, foi o que o meu pai não disse que durante uns tempos tomou conta da minha vida – o que não nos disse. Acabou por não ser a única pessoa a ter segredos. A seis de Janeiro, quatro dias depois do funeral, Inga e eu demos por acaso com a carta no seu escritório.
Tínhamos ficado no Minnesota com a nossa mãe para darmos início à tarefa de ordenar a papelada. Sabíamos que havia um caderno de memórias dos últimos anos, também uma caixa com as cartas que tinha enviado à família – muitas delas dos anos de soldado no Pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial – mas havia naquele quarto outras coisas que nunca tínhamos visto. O escritório do meu pai tinha um cheiro particular, ligeiramente diferente do resto da casa. Pergunto-me se todos os cigarros que fumava e os cafés que bebia e os anéis que aquelas inúmeras canecas deixaram em cima da mesa ao longo de quarenta anos terão actuado sobre a atmosfera daquele compartimento de modo a produzir o odor inconfundível que senti logo ao transpor a porta. Agora a casa já foi vendida. Comprou-a um dentista, que lhe fez grandes remodelações, mas eu ainda consigo ver o escritório do meu pai com a sua parede de livros, o arquivo dos ficheiros, a mesa comprida que ele próprio construíra, com o organizador de plástico em cima, que, apesar da sua transparência, tinha em cada gaveta minúsculas etiquetas escritas à mão – «Clipes», «Pilhas do Aparelho Auditivo», «Chaves da Garagem», «Borrachas».
No dia em que eu e Inga deitámos mãos à obra, o tempo lá fora estava carregado. Pela ampla janela, eu observava a fina camada de neve sob um céu cor de chumbo. Conseguia sentir Inga atrás de mim e ouvir-lhe a respiração. Marit, a nossa mãe, dormia, e Sonia, a minha sobrinha, aconchegara-se num canto qualquer da casa com um livro. Ao abrir uma gaveta do arquivo de ficheiros, surgiu-me abruptamente a ideia de que estávamos prestes a espoliar a mente de um homem, a desmantelar uma vida inteira, e inadvertidamente veio-me à memória a imagem do cadáver que dissequei na Faculdade de Medicina, com a caixa torácica aberta, ali, em cima da mesa. Roger Abbot, um dos meus colegas de laboratório, chamara-lhe Tweedledum, Dum Dum, ou só Dum. «Erik, olha-me só para o ventrículo do Dum. Hipertrofia, meu.» Por um instante imaginei o pulmão desfeito que o meu pai tinha dentro dele, e depois lembrei-me da sua mão a apertar a minha com força antes de eu sair do minúsculo quarto do lar na última vez em que o vi com vida. De imediato, senti um alívio por ele ter sido cremado.
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A próxima edição da Granta inclui um excerto de Invisível, o novo romance de Paul Auster, a ser editado este ano. Nesta entrevista exclusiva para a Granta, o escritor norte-americano fala sobre a intimidade emocional e os exercícios intertextuais da sua ficção, da intensidade da juventude e do processo de escrita.
Paul Auster e Jane Austen são os escritores de quem se fala mais nos blogues literários franceses. Mais informações aqui.
Siri Hustvedt vai estar em Portugal, de 31 de Maio a 2 de Junho, para a apresentação de Elegia para um Americano, o seu mais recente romance.
Ao tentarem pôr ordem na casa do pai recém-falecido, Eric e a irmã, Inga, descobrem um bilhete de uma mulher desconhecida. Algo no teor desse bilhete indicia que um segredo do passado continuava a atormentar Lars. Erik vê na solução desse enigma o derradeiro acto de aproximação a um homem que nunca compreendeu, mas tanto a vida dele como a de Inga estão a atravessar fases muito complicadas. Inga, viúva de um escritor famoso, está disposta a tudo para defender a reputação do marido e reaproximar-se da filha, Sonia, terrivelmente marcada pela memória dos atentados do 11 de Setembro. Por seu lado, Erik materializa a sua própria solidão num mantra espontâneo que o embaraça mas em relação ao qual nada pode – “Sinto-me tão só”, repete ele, mas poderiam ser todas as personagens desta Elegia a dizê-lo; nova-iorquinos solitários, perdidos no frenesim da grande metrópole, entregues aos seus segredos, memórias e sonhos, incapazes de qualquer acto de reconforto.
Um romance sobre pais e filhos, sobre a capacidade de ouvir e a opção de ignorar; a dor inerente ao acto de falar mas também ao silêncio; as ambiguidades da memória, a solidão, a doença e a redescoberta. No seu estilo delicado e comovente, Siri Hustvedt revela as mágoas secretas de uma família através de um extraordinário mosaico de segredos e histórias que reflectem a fragmentada natureza da identidade.