A Trilogia de Nova Iorque, de Paul Auster, foi considerado pelo Los Angeles Times como um dos 61 livros essenciais da literatura pós-moderna.
Podem consultar a lista completa aqui.
(Via Senhor Palomar e Bibliofilmes)
Em resposta a um repto lançado há algum tempo no Twitter, o blogue Bichocarpinteiro, mantido por Austeriana, tem analisado a vida e obra de Siri Hustvedt e, em particular, Elegia para um Americano.
Quais são as influências de Paul Auster na obra de Siri Hustvedt? Quais são os pontos em comum? O que os distingue e separa profundamente?
Saiba as repostas a estas perguntas e mais aqui, aqui e aqui.
Nova Iorque é a cidade a que todos já foram, mesmo (ou sobretudo?) os que nunca lá puseram os pés. Entre a urbe real – reduto supremo da desumanidade, asseguram os seus detractores – e a imaginária, que nos chega através das obras de um número quase infindável de criadores, é irrelevante saber onde reside a verdade, pois todas essas visões apenas contribuem para o fascínio que rodeia a capital não oficiosa do planeta. Italo Calvino não estaria certamente a pensar em Nova Iorque quando escreveu As cidades invisíveis, mas há algo nos seus traços oníricos e impossíveis que nos remete para as urbes descritas por Marco Polo ao embevecido Kublai Khan. Mas a cidade para onde confluíram gentes de todas as paragens é muito mais do que o local onde brotam arranha-céus dos mais improváveis sítios, como nos asseguram cineastas, músicos, escritores e artistas plásticos de todas as nacionalidades. Mesmo com todas as incursões artísticas de que tem sido alvo ao longo das décadas – sobretudo após o 11 de Setembro, que deu azo a dezenas de obras de pendor sociológico, quase todas falhadas –, Nova Iorque permanece um mistério. São os que nela habitam desde sempre os primeiros a traduzir a impossibilidade de acedermos ao seu núcleo mais restrito. É o caso de Paul Auster. Nascido na vizinha Newark, o romancista elege Nova Iorque, com frequência inusitada, como protagonista dos seus livros – de A trilogia de Nova Iorque ao mais recente As loucuras de Brooklyn – e nem por isso sente ter esgotado o tema. O mesmo acontece com Woody Allen, que, após ter filmado nos últimos anos em Londres e Barcelona, já anunciou o regresso à sua cidade.
Labiríntica e misteriosa, a Nova Iorque de Paul Auster que nos é revelada no seu mais emblemático livro não terá a fotogenia de qualquer guia de viagem, mas, em compensação, é muito mais estimulante.
Artigo da autoria de Sérgio Almeida, publicado no Jornal de Notícias, no dia 15 de Julho.
Com quatro romances e três ensaios publicados, Siri Hustvedt faz, de alguma forma, agora uma fusão entre os dois géneros. Pelos agradecimentos finais, o leitor fica a saber que a autora cita as memórias do pai, Lloyd Hustvedt, usando trechos de escritos seus como se fossem os do falecido Lars Davidsen, imigrante norueguês radicado no Minnesota e pai do casal que protagoniza esta Elegia… – uma alusão real à história de Siri.
Erik é psiquiatra e Inga uma intelectual formada em filosofia, viúva recente do famoso escritor e cineasta Max Blaustein. O passado dos mortos inquieta os vivos enlutados e espoleta neles a vontade de desvendar segredos e preencher omissões numa investigação que atravessa a rotina pessoal e profissional das personagens. Curiosamente, importa mais à narrativa o caminho que os irmãos percorrem para encontrar respostas para as suas interrogações do que as revelações propriamente ditas que o passado encerra. Não espere, por isso, encontrar surpresas que o deixem boquiaberto. Espere, isso sim, uma escrita ponderada, emoções contidas, reflexões interessantes, personagens cativantes e uma vertente de ensaio, sobretudo nas passagens
Crítica a Elegia para um Americano, de Siri Hustvedt, da autoria de Ana Morgado, publicada na revista Os Meus Livros de Julho.
Laurel e Hardy Vão para o Céu, de Paul Auster, com encenação de Rui Braz e interpretação de Paulo Cintrão e Ricardo Soares, estreia amanhã no Floresta Center, na Tapada das Mercês. A peça, escrita por Paul Auster durante os anos retratados em Da Mão para a Boca, vai estar em exibição das quintas aos sábados, pelas 22.00, até ao dia 1 de Agosto.
Sinopse
Laurel e Hardy constroem muros. Hoje, amanhã e no dia depois de amanhã. Laurel e Hardy constroem muros. É o que fazem. É o que são.
Não conhecem a finalidade da obra. Não conhecem o mandante da obra. Estão sós num espaço inóspito e desconhecido, tendo por guia apenas um livro de instruções que procuram seguir à risca, receando ser castigados. Conseguirão concluir a tarefa?
Laurel e Hardy Vão para o Céu é uma de três peças de teatro escritas por Paul Auster nos anos 70, num tempo em que o agora famoso romancista lutava para sobreviver dos parcos rendimentos obtidos com a actividade como escritor profissional. A estreia – um retumbante fracasso, segundo o próprio autor – teve lugar em 1977, num estúdio da Rua 69 em Nova Iorque, onde sete anos antes Mark Rothko, o artista plástico, se suicidara.
Laurel e Hardy Vão para o Céu é uma comédia amarga sobre a perda de identidade do homem contemporâneo face ao mundo globalizado e desumanizado que o rodeia, que carrega a forte influência, por um lado, de À Espera de Godot, de Samuel Beckett e, por outro, das comédias burlescas de Stan Laurel e Oliver Hardy – conhecidos em Portugal como Bucha e Estica –, que marcaram Hollywood nos anos 30.
Mais informações em www.utopiateatro.com.
Escolher um livro onde Nova Iorque assuma um papel essencial é tarefa ingrata. Henry James, Rex Stout ou John dos Passos não perdoariam a preterência, mas a sugestão é Cidade de Vidro, adaptação para banda desenhada de uma das novelas de A Trilogia de Nova Iorque, de Paul Auster.
Sem nenhum dos tiques que costumam manchar as adaptações para BD, frequentemente redundâncias que se limitam a “contar aos quadradinhos” o que havia sido escrito, Karasik e Mazzucchelli, com a colaboração do próprio Paul Auster, criam uma obra que coloca a exploração das formalidades da linguagem da BD ao serviço de uma narrativa que tem a cidade como elemento axial.
A partir de um texto que vive da fragmentação narrativa, das histórias cruzadas e das indagações em torno da linguagem, Cidade de Vidro adopta uma abordagem gráfica receptiva à experimentação, à utilização de outras linguagens (como a infografia) e a uma incansável procura de soluções. O resultado transforma o labirinto verbal e narrativo de Auster numa exigente sequência de imagens onde a cidade se desdobra em reflexos enganadores, dédalos de ruas que passam do mapa para o cérebro das personagens e ilusões que cruzam o verbal e o visual. Não será a Grande Maçã dos bilhetes-postais, mas fará de qualquer viagem um mapa de interrogações sobre o que se vê.
Excerto do artigo “Dez Destinos, Dez Livros”, publicado na revista Os Meus Livros de Julho.