Nos romances de Paul Auster, as histórias são como caixas chinesas ou matrioscas russas que não apenas se encaixam sucessivamente como nascem umas das outras, multiplicando-se. Elas são mistérios, enigmas, desafios sempre inquietos, à procura de alguma solução em aberto. Diz quem o conhece que Auster frui e percepciona a vida com deleite e com uma pitada de distanciamento nas narinas, sempre a farejar o (im)previsível movimento das pessoas e das coisas. E que depois escreve. Os seus livros, artigos, críticas e até argumentos para o cinema são de uma (quase) absoluta precisão: cirúrgicos, inteligentes, pertinentes, quase oculares. As suas ficções constituem um misto de realismo e fantasia, teia de coincidências, ordem secreta do acaso e evocação biográfica respigada de memória (ingredientes para uma boa história), com fugidio aroma a Cortázar e a Beckett. Obra de referência da literatura pós-moderna, a sua Trilogia de Nova Iorque é, nesta medida, exemplar. Também este seu 15.º romance, um dos seus melhores, não escapa a este jogo de espelhos, ao caleidoscópio existencial e sensorial de Auster, em que o destino é uma espécie de partitura que cada um vai escrevendo e interpretando. Trata-se, pois, de uma narrativa de percurso intencionalmente serpenteante, com quatro partes entrecruzadas, que tem como ponto de partida Nova Iorque, na Primavera de 1967 – ano de crescente oposição à guerra do Vietname, de rescaldo do assassínio de Kennedy e do melhor rock psicadélico. Durante uma festa, Adam Walker, de 20 anos, um tímido aspirante a poeta, conhece o professor Rudolf Born, charmoso, manipulador, temível, e a sua enigmática e sedutora companheira, Margot, um casal francês pouco convencional. Deste encontro emerge um triângulo amoroso que viajará pelas fronteiras circulares, e quantas vezes crepusculares, do tempo, do sexo, da verdade e da identidade. E , claro, do sofrimento e da morte. Uma never ending story ao melhor estilo de Paul Auster, em que cada história tem sempre uma porta que se abre para outra história.
Crítica de Vítor Quelhas a Invisível, de Paul Auster, publicada no sábado, no suplemento Actual, do Expresso.
Invisível, de Paul Auster, foi considerado pelo The New York Times como um dos 100 melhores livros de 2009. Pode consultar a lista completa aqui e recordar a crítica do NYT, em que considera Invisível como o "melhor romance jamais escrito por Paul Auster", aqui.
O título tem uma pequena subtileza, atraindo a nossa atenção para o modo como o Mal pode permanecer facilmente invisível; e o amor também. O lugar deles no mundo é completamente individual, dependendo de quem está a reconhecer a sua presença – ou não. A vida não é apenas uma espécie de comédia divina, mas há um espaço para a bondade no mundo do dia-a-dia. E este romance maravilhosamente estruturado afirma precisamente isso.
Pode ler a crítica do The San Diego Union-Tribune, publicada no domingo, a Invisível, de Paul Auster, aqui.
Um livro de Paul Auster é como um livro de leitura compulsiva à moda antiga que levamos para todo o lado para o podermos ler a toda a hora. Mas, apesar de nos podermos perder no mundo de Auster, a experiência também consegue ser perturbante. E isso faz parte do seu enorme apelo como escritor e constitui a base do seu estatuto único na ficção americana.
Auster nunca esteve tão bem, exercendo um controlo fascinante sobre a sua escrita. Em Invisível, tal como em outros dos seus romances, Auster desafia a própria natureza da ficção, apresentando mundos imaginários alternativos, qualquer um deles podendo ser considerado "real". Isto é uma espécie diferente de omnisciência; as suas personagens e as suas histórias são inteiramente plausíveis apesar do leitor ser mantido muitas vezes na ignorância, cedendo a claridade por uma verdade mais profunda: Nós nunca sabemos realmente o que vai na mente das outras pessoas.
Pode ler a crítica do The Seattle Times, publicada no domingo, a Invisível, de Paul Auster, aqui.
Pode ler a entrevista com "Paul Auster no seu ambiente, em Brooklyn, o seu lugar natural", publicada hoje no La Vanguardia, a propósito do lancamento da edição espanhola e catalã de Invisível, aqui.
© Alicia Huerta Cortez-Newscom
Tenho de confessar que acho muito erótica a imagem de raparigas a andar de bicicleta. Mesmo em Nova Iorque, há imensas raparigas atraentes a pedalar de um lado para o outro. Acaba por ser uma das melhores vistas da nossa cidade, ver uma rapariga numa bicicleta.
Pode ler a entrevista de Paul Auster à New York Magazine aqui.
Os prazeres encontrados lá dentro valem bem o esforço necessário para os desvendar.
Pode ler a crítica do The Washington Post, publicada hoje, a Invisível, de Paul Auster, aqui.
Há algo que certamente explica o fascínio que toda a gente tem por Paul Auster. É que o autor norte-americano escreve sobre personagens que procuram a redenção mas, em vez de as resolver pela escrita, exonera-as pela história – normalmente trágica. Invisível, o seu último romance, não é seguramente uma excepção e no entanto é um dos livros que mais apelam à tolerância do leitor. Formalmente, Auster é impecável e conseguiu reinventar-se: no centro do livro está um manuscrito incompleto e é exactamente dessa maneira que ele é apresentado. Mas, na essência, aceitar as decisões do protagonista é mais difícil. Consentir o comportamento de Adam Walker, o herói de Invisível, é um risco. Mas, no limite, funciona. E isso só pode querer dizer que Paul Auster tem direito ao aplauso.
Crítica da autoria de Ricardo J. Rodrigues a Invisível, de Paul Auster, publicada ontem na Notícias Magazine.
Folheie os romances de Paul Auster e verá um constante sentimento de irrealidade a impor-se. A sua oeuvre está repleta de escritores, que criam personagens apenas para sofrer confusões de identidade com elas. A sua obra retorna sempre para temas referentes ao carácter elusivo da natureza humana e da insuficiência da linguagem para investigar esta questão (ou até mesmo para registar fielmente a experiência).
Pode ler as críticas do LA Times e do Chicago Tribune, publicadas ontem, a Invisível, de Paul Auster, aqui e aqui.