Paul Auster continua a sua saga em busca de novas formas de contar histórias mas socorrendo-se sempre de parábolas, de dúvidas existenciais e, claro, de um estilo sólido. Este Invisível aproxima-se mais de uma novela convencional. Traz-nos a história de um poeta, Adam, que em 1967 conhece um casal francês (Margot e Rudolf) e as relações entre todos acabam por se tornar demasiado próximas. O choque frontal é, pois, esperado mas demolidor. No fundo, esta história que começa nos anos 60 é uma forma de Auster viajar nas décadas seguintes em busca da razão da raiva humana, que explode quando menos se espera. Os fãs de Auster têm aqui prazer garantido.
Crítica da autoria de Fernando Sobral a Invisível, de Paul Auster, publicada hoje, no suplemento Weekend, do Jornal de Negócios.
Leia a crítica de Fernando Sobral a A Noite do Oráculo, de Paul Auster, publicada em 2004 no Jornal de Negócios, aqui.
O novo romance de Siri Hustvedt é, mais uma vez, sobre os segredos labirínticos que as pessoas escondem
Na sombra de Paul Auster (apenas porque é casada com ele) vislumbra-se uma grande novelista; Siri Hustvedt. Apesar dela navegar por mares percorridos por outros (a memória, os segredos que os mortos esconderam, os artistas alucinados), ela tornou-se uma verdadeira mestre nestes labirintos insondáveis. É esse mundo misterioso que voltamos a encontrar neste Elegia para um Americano.
Leia o resto da crítica de Fernando Sobral a Elegia para um Americano, de Siri Hustvedt, publicada no suplemento Weekend, do Jornal de Negócios, no dia 22 de Maio, aqui.
O que é que pode acontecer a um homem que sabe demais? Isto é: a alguém que, devido às suas características, ganha um concurso e se torna bilionário? O indiano Ram Thomas Mohammad é um homem destes. É um pobre de Dharavi, que ganhou mil milhões de rupias num jogo de cultura geral, ele que dificilmente sabe qualquer coisa para além de tentar conseguir sobreviver numa imensa urbe. Pior: e se, de repente, muitos considerassem que você sabia demais, porque ganhou um jogo e assim fosse encarcerado por essa hipótese absurda? Isso também acontece a Ram.
É preso e colocado numa cela, por supostamente ter defraudado o apresentador do concurso. Só que nem tudo parece o que é: se um pobre como Ram ganhar, o apresentador e os produtores podem ir para a prisão, porque estão endividados até ao pescoço. Assim ele, por todas as razões, não pode ganhar. Os produtores têm assim de provar que ele os enganou. Mas não é nisso, na sua inocência, que Ram pensa, enquanto está na sua cela. “O que mais faz mover o mundo não é o sexo. É o dinheiro. E quanto mais dinheiro maior o frenesim”, dizem--lhe.
Quem Quer Ser Bilionário? é um livro que poderia ser um policial. Mas é muito mais do que isso. É uma análise cruel não apenas da sociedade indiana mas também de tudo aquilo que hoje podemos encontrar no mundo: a linha divisória entre pobres e ricos que dificilmente pode ser ultrapassada.
Ele representa uma Índia que tem trazido bons escritores nos últimos anos. Há ali um país, entre quem escreve na própria Índia ou é da diáspora, ou que olha para o mundo de uma forma cintilante e crítica como poucos. Swarup é mais do que um escritor indiano. É um analista do mundo, daqueles em que se atira uma moeda ao ar, para ver se sai cara ou coroa, isto é, sorte ou azar. E descobre-se: “é cara dos dois lados.” E a resposta é: “é a minha moeda da sorte, mas como te disse, a sorte não tem nada a ver com isto.”
Artigo da autoria de Fernando Sobral, publicado no Jornal de Negócios, no dia 3 de Novembro de 2006