O escritor norte-americano Paul Auster, cuja autobiografia, Diário de Inverno, será publicada pela ASA em agosto, foi distinguido na quinta-feira pelo mayor de Nova Iorque, Michael Bloomberg, com o 2012 NYC Literary Honor na categoria de Ficção.
Os NYC Literary Honors, os primeiros prémios literários de Nova Iorque, visam distinguir a vida e obra de autores e académicos para quem Nova Iorque serve de fonte de inspiração.
Os prémios celebram o papel que as grandes palavras e as grandes obras desempenham na vida cultural de Nova Iorque, bem como a importância da indústria editorial na economia da cidade.
“Nova Iorque acolheu sempre alguns dos maiores escritores do mundo e serviu de inspiração para inúmeras obras ao longo de décadas”, afirmou o mayor de Nova Iorque.
“Estes prémios realçam o extraordinário meio literário da cidade, uma parte essencial da comunidade criativa que tanto contribui para a nossa identidade, economia e qualidade de vida”, acrescentou Michael Bloomberg.
Para além de Paul Auster, foram também distinguidos, numa cerimónia realizada na Gracie Mansion, a residência oficial do mayor de Nova Iorque, Walter Dean Myers (Literatura Infantil), Robert Caro (Não Ficção), Roz Chast (Humor), Marie Ponsot (Poesia) e Robert Silvers (Vida Literária).
Nascido em Newark em 1947, Paul Auster reside atualmente com a mulher, a escritora Siri Hustvedt, na cidade de Nova Iorque, em Brooklyn, que instituiu o dia 27 de fevereiro como o Dia Paul Auster.
Paul Auster foi já distinguido com o Prémio Príncipe das Astúrias de Literatura 2006 e nomeado Comendador da Ordem das Artes e das Letras de França em 2007. Em 1993 a sua obra Leviathan recebeu o Prémio Médicis para o melhor romance estrangeiro. As Loucuras de Brooklyn recebeu em 2006 o Prémio Qué Leer dos Leitores para o melhor romance estrangeiro, distinção também dada a A Noite do Oráculo em 2004. Palácio da Lua foi eleito o melhor livro da década de 1990 pela Lire. Em 2009 recebeu o Prémio Leteo em Espanha. A sua obra encontra-se traduzida em quarenta e uma línguas.
Como será Nova Iorque daqui a 10, 25 ou até mesmo 50 anos? Pode saber o que um grupo de especialistas, incluindo Paul Auster, respondeu à Big Think para a sua série The Future of New York City aqui.
Uma casa num monte isolado, um hotel desconhecido, um país distante, a própria casa. Cada escritor guarda o seu refúgio para escrever e procurar inspiração. Ao sabor da literatura, a evasão e a escrita associam-se. E as férias? Essas nunca têm data marcada.
(...) Com o tempo (e os computadores, a Internet) desapareceu um certo ideal romântico do autor isolado. Ainda assim, alguns continuam a reservar um espaço só para escrever. É o caso de Paul Auster (n. 1947). O escritor norte-americano comprou um escritório em Brooklyn para trabalhar nos seus livros, deixando a casa de família vaga para a mulher, a também escritora Siri Hustvedt.
Escrever sobre Nova Iorque (A Trilogia de Nova Iorque, As Loucuras de Brooklyn; ASA) apreciando a cidade do outro lado da janela foi a fórmula encontrada pelo mediático escritor. Numa entrevista ao Público, em 2005, o autor de A História da Minha Máquina de Escrever dizia que ainda fazia os seus textos à mão, em cadernos, para a seguir dactilografá-los na sua velha Olympia.
Para ler na íntegra o artigo de Filipa Queiroz, publicado na revista Os Meus Livros de Agosto, aqui.
Nova Iorque é a cidade a que todos já foram, mesmo (ou sobretudo?) os que nunca lá puseram os pés. Entre a urbe real – reduto supremo da desumanidade, asseguram os seus detractores – e a imaginária, que nos chega através das obras de um número quase infindável de criadores, é irrelevante saber onde reside a verdade, pois todas essas visões apenas contribuem para o fascínio que rodeia a capital não oficiosa do planeta. Italo Calvino não estaria certamente a pensar em Nova Iorque quando escreveu As cidades invisíveis, mas há algo nos seus traços oníricos e impossíveis que nos remete para as urbes descritas por Marco Polo ao embevecido Kublai Khan. Mas a cidade para onde confluíram gentes de todas as paragens é muito mais do que o local onde brotam arranha-céus dos mais improváveis sítios, como nos asseguram cineastas, músicos, escritores e artistas plásticos de todas as nacionalidades. Mesmo com todas as incursões artísticas de que tem sido alvo ao longo das décadas – sobretudo após o 11 de Setembro, que deu azo a dezenas de obras de pendor sociológico, quase todas falhadas –, Nova Iorque permanece um mistério. São os que nela habitam desde sempre os primeiros a traduzir a impossibilidade de acedermos ao seu núcleo mais restrito. É o caso de Paul Auster. Nascido na vizinha Newark, o romancista elege Nova Iorque, com frequência inusitada, como protagonista dos seus livros – de A trilogia de Nova Iorque ao mais recente As loucuras de Brooklyn – e nem por isso sente ter esgotado o tema. O mesmo acontece com Woody Allen, que, após ter filmado nos últimos anos em Londres e Barcelona, já anunciou o regresso à sua cidade.
Labiríntica e misteriosa, a Nova Iorque de Paul Auster que nos é revelada no seu mais emblemático livro não terá a fotogenia de qualquer guia de viagem, mas, em compensação, é muito mais estimulante.
Artigo da autoria de Sérgio Almeida, publicado no Jornal de Notícias, no dia 15 de Julho.